Azeite de Leos e Otávio Zani na Casa Galeria: dois artistas, dois momentos
Esta semana pude visitar mais uma exposição, com agendamento prévio, uso de máscara, todos os protocolos, mas com a mesma boa surpresa que a arte contemporânea têm me agraciado ao longo dos anos.
A Casa Galeria Oficina de Arte apresenta as obras de Azeite de Leos e Otávio Zani, com curadoria de Carmen S. G. Aranha e Loly Demercian. A exposição pode ser visitada virtualmente, uma experiência que fortemente recomendo, acessando o site que consta no final do artigo. Informo que todas as imagens aqui publicadas são de minha autoria.
Uma questão que sempre faço quando observo o conjunto de obras de um artista, é perguntar que ponto de sua trajetória estou testemunhando naquele momento.
Tenho acompanhado a produção de Azeite de Leos há alguns anos e nesta exposição impressiona constatar a maturidade de seu trabalho. Partindo da pintura e do desenho, foi ao longo dos anos operando um processo onde camadas de paredes, fragmentos de áreas são remontadas, recebem intervenções com pintura e/ou escrita, criando uma narrativa pictórica forte e emocionante.
Trata-se de um trabalho minucioso, de uma coleta feita constantemente de elementos encontrados pelo artista em suas caminhadas, ou que estão em seu entorno e vão sendo ao mesmo tempo preservados e ressignificados em uma poética singular. Porque as imagens são abstratas, mas pela textura e a referência do fragmento de paredes edificadas, nos tocam no sensível de uma arqueologia afetiva que todos temos, um lugar que nos abriga, acolhe, protege.
Neste sentido é que podemos constatar a maturidade do artista, que criou um corpo de trabalho coerente e se movimenta livremente por ele, sem que aquilo que vemos tenha um caráter experimental, mas que nos fala da poética que o inspira e move.
Como potência dessa ação, toda uma visão do espaço externo, desse cotidiano urbano e fragmentado, dessa tensão entre construção e destruição ganham uma ressonância vital na exposição. Estamos na galeria, na sala expositiva, mas as obras nos colocam nesse campo do abrigo afetivo e caos de um mundo que tem flertado perigosamente com a distopia.
Otávio Zani, por sua vez, nos convida a trilhar um caminho que parte da gravura, mas caminha pelas intervenções com pintura e colagem. O caráter expressivo e o uso de cores e tons intensos são um contraponto ao delicado processo de trabalho, que envolve mais de uma técnica com resultado de beleza única.
Aqui, o vigor da produção se manifesta nas obras em conjunto, em uma imagem que pode ser ponto de partida, mas após receber intervenções torna-se individual. Existe um desafio que o artista consegue superar quando apresenta um número maior de obras, que poderia soar como exercício ou talvez apresentar certo desequilíbrio, o que não acontece.
Ao contrário, o conjunto de imagens apresentado transmite a energia e o pulsar de seu momento de criação. Um artista que encontrou seu caminho e agora começa a trilhá-lo com serenidade.
Vale apontar como a produção contemporânea em artes visuais cada vez mais se apropria das técnicas como eixos pelos quais transitam e constroem novos e instigantes resultados.
A curadoria realizada foi impecável e procurou trazer o melhor de cada artista nesta exposição, motivo pelo qual reforçamos o convite para visitação, com a opção de fazê-lo em modo virtual.
Neste momento delicado que atravessamos, temos de respeitar e tomar todos os cuidados necessários, mas também compartilhar e valorizar todas as iniciativas que procurem divulgar arte e cultura.
Em breve iremos todos nos encontrar e abraçar. E para que possamos estar com nossos corações plenos e nossas mentes sãs, arte ontem, hoje e sempre.
Informação:
https://www.lolydemercian.com.br/